domingo, setembro 28, 2008

ENTREVISTA DE LUÍS COUTO AO JORNAL A UNIÃO

É preciso reconhecer que o modelo desportivo na região falhou e avançar para alternativas”, defende o terceirense Luís Carlos Couto, Mestre em Ciências Desportivas e assessor principal do Instituto do Desporto de Portugal (IDP).
Ligado ao fenómeno desportivo “desde que se conhece”, Luís Couto olha para a situação dos clubes açorianos com alguma apreensão, considerando que o movimento associativo se desviou da sua função primordial:
“ Os clubes nasceram com a missão de dar resposta às necessidades da comunidade onde se integram. A sua função é proporcionarem condições competitivas aos jovens para praticarem uma modalidade. Se essa competição for feita nas distritais tudo bem, não há nenhuma obrigação dos clubes da Terceira em competirem numa 2ª liga ou numa 2ªB, até porque já se viu que isso só é possível recorrendo a jogadores vindos de fora e que exigem investimentos avultados”.
O actual colaborador da Federação Portuguesa de Futebol para a área da formação vai ainda mais longe e afirma que “é-me mais gratificante ver o Angrense ou o Lusitânia com 150 miúdos a praticar futebol do que a disputar uma 2ª Liga só com jogadores estrangeiros, não é essa a sua missão”.
Situações como a vivida pelo Minhocas nas Flores ou pelo Lusitânia, são, no entender de Luís Couto, a prova que a política de apoio ao desporto na região não produziu os resultados esperados.
“ Que proveitos retirou o Lusitânia? Tem formação, tem património, obteve resultados de excelência? O que vejo é uma divida praticamente insanável e um deserto completo”, afirma o assessor principal do IDP.
Luís Couto responsabiliza o poder político pelo actual estado de coisas, especialmente a nível autárquico “ grande responsável por esta ruína, pois pretendeu associar-se ao sucesso efémero dos clubes para proveitos políticos”. O especialista em ciências desportivas vai mais além e questiona qual o retorno de alguns apoios como os que são dados a clubes da região pela Direcção Regional de Turismo.
“ Existem estudos sobre o retorno para a região do Santa Clara ou do Lusitânia terem a palavra “Açores” nas camisolas? Esse apoio produziu um aumento no número de turistas? Entendo que se trata de uma questão politica mas não vejo mal nenhum que os políticos reconheçam o erro e arrepiem caminho para um novo modelo”.
Para o responsável do IDP os apoios aos clubes deveriam ser baseados no cumprimento por partes destes dos desígnios para que foram criados e pela criação pelo Governo Regional de medidas legislativas que beneficiem quem trabalha voluntariamente na formação desportiva.
As pessoas perdem horas do seu próprio lazer, do seu tempo familiar para trabalharem nos clubes, em funções que competem constitucionalmente ao Estado, e não recebem contrapartidas por isso. Entendo ser fundamental criar um pacote de medidas, seja a nível fiscal, ou outras situações que funcione como contrapartida estatal pelo trabalho desenvolvido por quem está nos clubes, quem forma os nossos jovens”.
Faltam atletas de excelência
Luís Couto olha apreensivo para a situação do desporto açoriano, não só na questão dos apoios, mas igualmente no aparecimento de resultados, realçando o facto de “desde 2000, exceptuando o Pauleta que é um produto da rua e não de uma politica de formação, não aparece um atleta de excelência na região”.
Para o Mestre em Ciências Desportivas, esta situação é um reflexo do modelo implementado, ainda para mais quando comparado com a situação na Região Autónoma da Madeira “de onde saíram oito atletas para os recentes Jogos Olímpicos de Pequim”. “Porque esta disparidade?”, questiona Luís Couto, que aponta como exemplo da diferença de visão para ao desporto nas duas regiões o facto de na Madeira “os clubes terem acesso a técnicos especializados, que estão nas escolas e são requisitados para os clubes sem custos, desde que o Governo Regional entenda que apresenta benefícios a nível de formação. Se falhar este modelo é melhor que dar 2 milhões a um clube e não saber onde são aplicados”, deixa no ar Luís Couto.
Na perspectiva deste especialista em politica desportiva, os Açores devem definir o mais rápido possível o perfil de Atleta de Alta Competição, que resultados devem ser alcançados para atingir esse estatuto e a partir daí produzir legislação que permita conciliar o sucesso desportivo e a actividade escolar.


Em perfil
Luís Carlos Couto, 49 anos é licenciado em Educação Física e Mestre em Ciências do Desporto na área de Treino de Alto Rendimento pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Ocupa o cargo de assessor principal no Instituto de Desporto de Portugal e colabora com a Federação Portuguesa de Futebol no departamento de formação, sendo responsável por vários cursos desta instituição.
Teve também uma ligação de mais de 15 anos como treinador de futebol em várias formações açorianas

 

Retirada DAQUI.

 

Só quero dizer:

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2 Comments:

At 1:53 da tarde, Blogger Ricardo said...

Só é pena é que as pessoas de cá ouçam mais as opiniões de fora do que aquelas dos que há anos e anos andam no nosso desporto.

É que, se formos a ver, o que este disse agora é algo que muitas pessoas têm vindo a dizer de há muitos anos a esta parte.

Infelizmente, sem resultados práticos.

 
At 3:32 da tarde, Blogger Simão Pfc Neves said...

Atenção que mesmo a algumas de fora não são dados ouvidos.
Aliás algumas destas passaram a ser persona non grata, bem como quase tudo o que estava à sua volta.
Mas basta ouvir os discursos e as conferências de imprensa para se perceber que as vozes que alertam estão todas erradas.
Geralmente é assim.
Li hoje ao almoço que em 2004 um economista norte americano deu uma conferência onde descreveu tudo o que agora se está a passar na América. A plateia riu-se.
Também li hoje que fizeram um estudo e descobriram que em 97% das recessões de países ocorridas na década de 90 os economistas e analistas de renome não conseguiram antever as crises no ano antes.
Gosta-se de ouvir os alinhados e ignora-se as vozes dos outros. Infelizmente geralmente as dos outros estão certas.

 

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